domingo, 28 de outubro de 2012

Virgindade - Se para alguns já não importa, por que para outros vale milhões?

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Não é mesmo um paradoxo? Vivemos em uma época em que a virgindade, sobretudo a feminina, é um tabu superado. Será? E por que a virgindade de uma moça chega a valer milhões?

Ninguém mais casa-se tendo como condição a virgindade da noiva. Apesar de que, segundo a tradição, o branco do vestido nupcial simboliza a pureza da mulher. Se essa tradição é argumento para os mais conservadores, também não deixa órfãos os mais moderninhos, que continuam concordando com a pureza, não exatamente a do corpo, mas a da alma, do "interior".

Mas o impasse não fica por ai. Desde quando o sexo torna uma pessoa "impura"? Que pureza uma mulher que ainda não teve a primeira relação mantém em meio à abundância de informações sobre sexo? A nível de informações, essa suposta pureza só seria mantida sob enclausuramento, como faziam as freiras. No mundo de hoje, terminantemente ela seria pura fisicamente, conservando a membrana himenal, mas não poderia permanecer pura em seu intelecto "contaminado" por pensamentos oriundos das informações e imagens que escapassem das mais zelosas regras morais. Mais um paradoxo: teríamos apenas moças "lacradas", mas tão moralmente "impuras" quanto as mulheres sexualmente experimentadas.

Achamos um terreno sólido para fincarmos nosso pilar moral? A sociedade atual entende que, se houver pureza, que esta seja no caráter, no intelecto, no interior. O sexo é puro praticado entre pessoas que se gostam, ou que mantém no mínimo um vínculo afetivo suficientemente capaz de caracterizar o ato sexual como moralmente aceitável. Já não é pela forma, mas pelo contexto, pois mesmo um casal de oficialmente casados pode ultrapassar os limites aceitáveis, dependendo da forma como fazem sexo, assim como onde o fazem. Mesmo amadurecidos nos escandalizamos com pessoas que surgem diante de uma câmera em flagrante ato sexual em lugares públicos, como trens, elevadores, torres e praias. A forma, o lugar, assim como todos os fatores externos, parece macular qualquer ato sexual "purificado". Depende. Fica de fora o corpo, detalhes mais íntimo das práticas pertencentes ao fórum íntimo do casal. Entre quatro paredes, tudo é válido, desde que a integridade física permaneça intacta. Se há membrana hímen, se não há, não importa a ninguém, nem ao menos a quem diretamente interessa: o parceiro.  Como ninguém deve satisfação a ninguém, e ninguém ainda menos se interessa pelos lençóis manchados do dia seguinte a noite de núpcias, os homens recém-casados estão pouco se lixando se a mulher é virgem ou não, afinal, eles muito provavelmente conhecem relativamente o histórico sexual de suas respectivas noivas, bem como deles fazem parte muito antes da lua de mel. A acrescentar, o homem mesmo não é mais virgem, como pois poderia cobrar da noiva que o seja?

Outra coisa que endossa a ideia de que a virgindade da mulher ainda não deixou de ser um fator de importância para o homem é o fato de alguns ainda pedirem a separação, romperem relacionamentos afortunadamente efetuosos, quando se esbarram na seguinte revelação: não sou mais virgem.

Somam-se a isto outros fortes indicativos. Por exemplo, se não fosse tão importante, porque as mulheres, elas próprias, ainda continuam dando essa satisfação, esse parecer aos homens? Sim, pois, qual a mulher que antes de transar não disse ao parceiro: "ainda sou virgem", ou "não sou mais virgem"? E qual delas ao terminar o ato não disse: "foi minha primeira vez"? Por que ela dizem isto? Não estariam ai ratificando esse valor moral excessivo a uma questão que a sociedade moderna aparentemente já resolveu deixar no vácuo?

Acima, vimos alguns dos vestígios do porque da virgindade ser tão valorizada, mesmo no presente tempo. Veja que alguns homens não ouvirão esse "discurso" da boca de uma mulher. E isso é uma das coisas que os aterrorizam. Saber que muito provavelmente sua mulher o proferiu a outro homem. saber que com ele ela jamais o proferirá.

Embora já existam cirurgias de recuperação do hímem, os homens não querem apenas esta membrana artificial. Por si só ela não diz nada, mas seria necessário também a suposta pureza dita no inicio deste texto. Ora, então a questão não é apenas de condição física, mas também do intelecto. É a história dessa mulher que o tal homem quer, não apenas o seu corpo. No entanto, como ele valoriza o seu intelecto enquanto a desvaloriza por inteiro em virtude do corpo? É a ausência de experiência sexual, a nível intelectual, que o homem cobra da mulher. Ela teria que ser "bobinha" numa matéria em que ele fosse expert. Talvez essa seja a melhor definição do que se passa na mente machista do homem.

O que resta é que os conservadores na verdade tratam a mulher como uma lata de extrato de tomate, cujo lacre zela pelo estado de jamais ter sido "aberta" antes. Assim como um pote de margarina mantém uma película sinalizando seu estado primordial desde a linha de produção, a mulher devesse ser intacta. Mais esses mesmos conservadores dizem que os tempos modernos não possuem valores morais elevados, que os tempos modernos vivem uma crise de materialismo, etç. Quem é materialista nesta história, afinal?

Muito embora elevados no espírito, os homens modernos ainda pagam milhões por um bem que as mulheres cedem "de graça" e são chamados materialistas. O mesmo "bem" que ela cede a outros tão facilmente, numa ocasião qualquer, para alguns chega a valer milhões. E, se essa supervalorização vista por uns decorre da raridade do produto(dizem que já não há mais virgens), não há como negar que alguém está encontrando virgens por ai, pois mulher não nasce desvirginada. Não ser este alguém  é outra perturbação ao machismo presente em todos os homens. Veja as letras dessas músicas populares:

"Deixa eu te amar, faz de conta que sou o primeiro..." (Na vóz de AGP)

"Moça, sei que já não és pura. Seu passado é tão forte. Pode até machucar"(Vando)

"A primeira vez, a gente não esquece. Fica o tempo todo na memória"(Banda de forró)

O cantor Alexandre Piris resolveu essa questão:

"As histórias de amor que tivemos, foram uma espécie de preparação. Nós ficamos amadurecidos e sábios de coração..."

Talvez esse sentimento machista do homem em relação a mulher tenha raízes num passado longínquo e esteja relacionado a um instinto de preservação das características genéticas. Não admitir que a mulher pudesse ter relação sexual com outro homem iria garantir que os filhos tivessem a herança genética do macho em questão. É um ciúme retroativo, levando em conta o passado da mulher. Sendo assim, não é de se admirar que os pensamentos mais tradicionais a este respeito estejam tão ligados à ignorância e ao atraso intelectual do ser. Nisto, dizem que "passado de mulher é igual cozinha de restaurante: melhor não conhecer a fundo."

Curiosamente, entre os machos mais "desvirginadores" da espécie humana estão tanto os que valorizam a virgindade quanto os que não a veem com valor algum. Da mesma forma, entre os que podem jamais ter tido experiência com uma mulher virgem estão também homens de ambos comportamentos. Talvez para aqueles que valorizam tanto assim a virgindade, relacionar-se com uma que já não tenha perdido a virgindade seja um desconforto. Para eles, virgindade é, ai sim, um tabu. O que eles tanto valorizaram, não tiveram. Em contrapartida, outro que talvez nem desse tanto valor assim, teve o privilégio.

Mas, se o homem valoriza tanto assim a virgindade da mulher, porque então ao casar-se não a mantém virgem para sempre? É porque o problema não reside no fato de que ela não seja mais virgem, mas porque a mulher em questão não "perdeu" essa virgindade com ele. Alguns homens temem que jamais possam ser melhores que o primeiro homem da vida de uma mulher. Por isso, algumas já alegam que o primeiro é aquele a quem se entregaram "de corpo e alma". O problema maior é que os homens amam em função do sexo, e as mulheres fazem sexo em função do amor. Nisto, o argumento acima só valeria para elas. Por isso mesmo elas não se incomodam quando o homem já não é virgem.

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