Que a novela "das oito" (ou das nove?) da Rede Globo já enchia o saco dos telespectadores com o dialeto peculiar (português com sotaque italiano), isso todos já sabíamos desde o começo. O que não dava para prever era essa enxurrada de clichês policiais que dominariam a todos os personagens, e a todo tempo, capítulo a capítulo, tornando ainda mais bizarro o que parecia ser o extremo da patifaria, da velha marmelada de que fazem lugar comum as novelas brasileiras.
Depois da morte do Saulo, todos desconfiam de todos. Ninguém mais trabalha. Na empresa da Bete Golveia, a muito as reuniões de diretoria, os assuntos corporativos, os negócios propriamente relevantes deixaram o cenário, dando lugar ao mais autêntico folhetim policial. O curioso é que, após o brutal e misterioso assassinato do filho da empresária, nenhum policial entrou em cena. O delegado deve ter saido de férias sem deixar substituto e a polícia científica deve ter entrado em greve. Cada personagem transformou-se do dia para a noite em detetive, desconfiando até da própria sombra, investigando as figuras mais insuspeitas, alucinados e paranóicos. Parafraseando os Engenheiros do Hawaii, "qualquer coisa que se mexa é um alvo", numa epopéia de conclusões insanas. Uma verdadeira paranóia coletiva parece ter desequilibrado tirocínio e bom senso de todos, até de pessoas altamente centradas.
Enquanto o presunto de Saulo repousa no necrotério, todos, em massa, se persegue, se questiona, indaga sobre quem o matou. Se continuar assim, até o desejável fim a novela Passione terá deixado uma lição de papel social relevante: é possível a uma sociedade dispensar o trabalho da polícia, claro, se a própria família do defunto abdicar dos afazeres do cotidiano para identificar dentro dela própria o possível criminoso, já que todos, até a própria mãe do infeliz, são suspeitos. Só falta descobrir que todos, em um vingativo multirão, o assassinaram. Aí já demais!
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