Cadáver lançado ao rio em ritual religioso |
A alguns metros dos ghats, na mesma margem, uma fumaça branca chama a atenção. Durante todo o dia são cremadas centenas de pessoas que depois têm suas cinzas atiradas como presente ao Ganga. Segundo a crença antiga, essa é uma forma de se libertar do samsara, uma necessidade da alma que deve voltar para liquidar o saldo em um ciclo de existências sucessivas. O mais antigo e importante documento da literatura indiana, um dos quatro livros dos Vedas – Rig Veda – é repleto de formas de rituais e ritos. Entre eles, é possível encontrar o do funeral. A cremação é o mais habitual dos funerais. Ela é precedida por um cortejo fúnebre de parentes homens que transportam o defunto envolvido por um pano e cercado de flores. A cor do pano corresponde ao sexo. Em homens, usa-se o branco, nas mulheres, vermelho. Antes da incineração, os presentes dançam e cantam para libertar o espírito de todos os demônios.
Para aqueles que não conquistaram a libertação, a morte é apenas um desaparecimento momentâneo. Já os que conseguem se libertar têm o caminho dos deuses. A fogueira é acesa. Para os santos ou pessoas de castas superiores a madeira usada é mais cara, o sândalo. Também para esses, fica reservado o melhor e mais alto espaço do crematório artesanal à beira do Ganga. O crematório elétrico, que fica bem ao lado, dá conta dos cadáveres menos abastados, cuja família não pode pagar os 110 dólares mínimos pelo ritual artesanal.
Choque ocidental A poucos passos dali um cão remexe um pedaço de carne.
– O que ele está comendo?
– O pedaço de um corpo que o Ganga devolveu, responde um guia local.
Indianas lavando louça e tamando água |
Esses corpos são amarrados numa pedra e jogados no rio. Evidentemente se desprendem, sobem e se tornam alimento de urubus, cães e outros bichos. O curioso é que, com tudo isso, o Ganga, incluindo os corpos queimando em fogueiras que mais parecem as montadas nas festas de São João, não exala odor forte. E isso acaba servindo de justificativa para os guias locais defenderem que o rio é limpo e que não há problema algum em se banhar nele ou mesmo beber de sua água.
Como em qualquer outra religião ocidental, o inexplicável se responde através da fé. Mas o que parece mais diferenciar o hinduísmo das religiões ocidentais é o fato de estar presente em quase todos os aspectos da vida cotidiana e extrapolar completamente os espaços sagrados. Do vestuário e alimentação à forma de organização social e política, não há o que não tenha seu toque.
Basta entrar em uma residência hindu. Elas são como um templo. O ritual se inicia na porta, onde devem ser deixados os sapatos, que por tocarem as ruas são considerados impuros. Principalmente se forem de couro, já que foram produzido a partir de um animal morto. Dali pra dentro, as manifestações continuam. Nas paredes e cantos da casa há diversas formas de homenagem aos deuses preferidos dos moradores. Elas se dão através de altares, calendários com imagens e até de adesivos. Incenso, lamparina com azeite e flores são alguns dos objetos colocados ao lado das imagens. (Por Juliana Di Thomazo [Quarta-Feira, 19 de Novembro de 2008 às 12:58hs] juliana@revistaforum.com.br )
Passei por tudo isso em um Ash-hran
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