segunda-feira, 26 de março de 2012

Algum dentista já te recomendou uma marca de creme dental?

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Eu poderia começar dizendo que algumas agências de publicidade acham que o povo é burro. Mas não, sou muito mais propenso a crer que eles sabem exatamente o grau de inteligência das pessoas. Veja como é fácil perceber este espírito coletivo, essa inteligência da massa, observando os jovens que marcam encontros pela internet para quebrarem as cabeças uns dos outros com barras de ferros, canos e pedaços de paus. Pelo que eles lutam? O que objetivam? Precisa ser sábio para chegar à conclusão de que eles buscam objetivo nenhum? A única coisa que os une é o sentimento de fanatismo por um símbolo, um escudo na camisa do time favorito, e só. Peça para um deste jovens, e até adultos, justificar as razões da rivalidade entre torcidas organizadas e voce terá como resposta o silêncio ecoando dentro do espaço vazio de suas cabeças.

Veja também o que temos em termos de programação da TV aberta. Aos domingos a Rede Globo exibe o Domingão do Faustão. Alguém já percebeu que a própria emissora, em sua direção, sabe da exata relevância desse programa? Note como ele é interrompido sempre que há uma transmissão de jogo de futebol. É aquela coisa de "dar passagem" ao que é mais importante. O besteirol do Fauston Silva perde espaço para um jogo de futebol. Note, algo que seria mais caracterizado pela inteligência, pela emoção, pelo intelecto sob diversos aspectos artísticos, música, artes plásticas, diálogo, comunicação, dá lugar à monótona apresentação de 22 homens suados correndo atrás de uma bola enquanto um locutor narra os atropelos. Milton Neves, um nome forte no jornalismo futebolístico, costuma dizer que "futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes."

Resta dizer que, o gosto por futebol, "uma paixão nacional", não atinge todas as pessoas, mas ainda assim seu alcance é tão numeroso que a TV abafa outros programas para exibir este esporte. Fica, no entanto, aquela dúvida sobre "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?" Ou seja, a TV expõe assim o futebol porque o povo gosta, ou o povo gosta porque a TV assim expõe?

Ressalva: não citei os outros programas de domingos, das outras emissoras, porque são tão ruins que não servem nem como péssima referência. No entanto, vale ressaltar que costuma-se fazê-los ruins porque acreditam ser isto o que o povo gosta.

Voltando ao tema inicial, as agências de publicidade sabem bem qual o grau de inteligência do povo brasileiro. É o "público" do 'Big Brother Brasil', não a nação brasileira.  Neste mesmo programa citado, perceba como o apresentado fala, "com uma boca escancarada e cheia de dentes"(esperando o mundo inteiro submergir na idiotice do seu conteúdo), a palavra público, em referência ao que seria o povo, a nação.

Dicionário:

Público: 5. A população em geral; 6. Conjunto de pessoas que assiste a algo ou ao qual se dirige determinada mensagem.

Nação: 1. Conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua.

Essa televisão brasileira maltrata o povo, porque o sente incapaz de perceber a origem da pancada contra ele desferida. Somos tratados como os índios foram no passado, trocando bens preciosos, dos quais não se tem conhecimento, por lixo, exatamente por não saber avaliar cada coisa. Por exemplo, a TV não é do senhor jornalista Fulano-de-Tal, mas sim do povo. Olhe só, o prédio, as instalações, os bens materiais podem ter um dono privado, mas a concessão é pública, pertence ao povo. Se o órgão federal que controla a comunicação e esse direito de transmissão também respeitasse o povo, bastaria exigir mais decência das emissoras e facilitar as concessões para mais empresas atuarem na área. O povo brasileiro poderia pressionar a qualidade desse produto, a comunicação televisiva, não ser por ela pressionada.  Há uma inversão feroz de papel entre fornecedor e consumidor neste negócio. Não seria custoso acreditar haver uma intensão de desqualificar a TV a fim de empurrar o telespectador para a TV por assinatura.

Citei acima o dicionário para que reflitamos um pouco mais no sentido como essas duas palavras são empregadas. Quando somos chamados simplesmente de público, não somos devidamente respeitados. Note que o termos é empregado no quinto e/ou sexto sentido da expressão.

Quando somos tratados por nação, povo, temos um sentido real, cujo sentido é imediato.

Alguém pode dizer que a televisão trata exatamente disto: por saber que tal programa não atinge a totalidade dos lares brasileiros, mas apenas um  "público específico", é que usa-se a referência público, e não povo ou nação. E eu friso o que já expus, que o problema está justamente ai, quando o todo é representado pela parte. Enquanto somos tratados por "a nação do futebol", "o país do carnaval" ou "o público telespectador", não somos "a pátria" ou "a nação",como queria Rui Barbosa. Somos, depressivelmente, o público de Pedro Bial.

Não é de se estranhar, portanto, que as agências de publicidade zombem da nossa inteligência. É o caso do creme dental que se diz "a marca mais recomendada pelos dentistas". Todos nós sabemos que dentistas não recomendam marca alguma, mas limitam-se a orientar seus pacientes quanto à forma correta de fazer uma higiene bucal. Ganhariam os médicos dos fabricantes de creme dental e dos pacientes pela mesma orientação? Claro que não. Se eles são pagos pela consulta não podem ser pagos pela recomendação dessa ou daquela marca, afinal, estariam ganhando duas vezes pelo mesmo serviço. Mas, as agências de publicidade não parecem acreditar que o povo tem capacidade para raciocinar isto.

Não adianta dizer que a TV brasileira é assim porque o povo brasileiro também o é. Não acredito. Acho que os meios de comunicação são extremamente poderosos para formar a opinião pública. E o produto da formação que viemos recebendo ao longo destas décadas nos tem lavado a esta situação. Enquanto isto, vamos vendo e ouvindo absurdos e incoerências do tipo "Casas Bahia, mais barato que Casas Bahia", "Só Ovo Maltine é Ovo Maltine", bem como o comercial automotivo que diz: "aperfeiçoando a perfeição".

Tudo isso são incoerências e frases de efeito, mas que zombam do nosso raciocínio. É como se dissessem: o povo não pensa, sente. Não, não somos apenas isto. Somos seres racionais, não seres sensoriais. Não somos máquinas, somos pessoas. Não somos um povo incompreendido, somos compreensíveis. Se assim nos tratam, não é apropriado.

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