quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sexualidade não é assunto do Estado, da sociedade nem das religiões

Agregador de links
Considere esta afirmação:
"Dentre os meios de comunicação, a televisão tem se destacado pela sua ampla capacidade de atingir as diversas classes sociais, disseminando os produtos da indústria cultural e a ideologia dominante aos diferentes sujeitos sociais"(Revista da Fundação Getúlio Vargas - Tema: Infância)
Agora, preste atenção na letra de abertura do programa Quintal da Cultura, importante programa infantil que passa na nas manhãs da TV Cultura, alcançando um público que vai dos 7 aos 16 anos (alunos que estudam a tarde e a noite) :
"E se a gente combinar, de brincar de outra maneira. Troca tudo de lugar e mudar a brincadeira. Eu agora era voce. Voce agora era ele. ELE agora era ELA. Ela agora vira eu. Então tá combinado. Então tá tudo trocado. Então tá tudo mudado, então tá, tá combinado."
Eu tenho firme convicção de que a sexualidade do indivíduo é um assunto essencialmente individual, e que só passa à esfera de terceiros (a igreja, o estado, a sociedade) quando configura-se crime contra terceiros ou contra estes interfere de forma indevida e imprópria.

Qual a finalidade do sexo?  Biologicamente, o orgasmo (a reprodução da espécie é uma consequência, pois ninguém faz sexo para reproduzir-se, mas reproduz-se porque faz sexo). Embora assim, a biologia trata do sexo como meio de reprodução pela implicitude e característica desse fator. Sociologicamente, o prazer individual e auto-afirmação como pessoa gozando de plenos direitos enquanto individuo assistido pelos direitos provenientes de deveres cumpridos por ele em seu meio.

No Brasil, em nossa história mais recente tivemos um assunto que dominou a mídia e depois desapareceu junto com o equívoco de seus idealizadores: o pacote anti-homofóbico chamado "kit anti-homofobia" do Mec (Ministério da Educação e Cultura).

Na questão do comportamento sexual deve-se evitar os extremos, de um lado a depravação moral, do outro, o preconceito, e bem no centro desse equilíbrio está a individualidade da pessoa, característica maior do sexo e da sexualidade, o que requer neutralidade do estado, da igreja (religiões e afins) e da sociedade como um todo. As questões ajacentes ao sexo, como crimes de estupro, atentado ao pudor, discriminação sexual, etç, devem ser tratadas por mecanismos da lei em si que abordam todas as questões legais, mantendo-se fora do âmbito sexual pura e simplesmente. Qualquer desculpa para tratar de crimes como se fossem sexuais, e não puramente crimes, é subterfúgio para entrar neste âmbito por alguma razão não saudável.

Peca a(ou as) igreja(s) com suas campanhas contra o "kit-anti-homofóbico", porque não prevê o direito de tratar do assunto sem a criminalização. Ou seja, querem discriminar sem serem discriminados. Mas peca o Estado ao interferir inoportuna e inadequadamente, o que é pior, na formação sexual do indivíduo que tem o direito de ser homo, bi ou heterosexual.

A música citada acima é um flagrante caso de orientação homosexual, quando diz "Ela agora vira ELE", e pede tolerância informando que "(es)tá tudo mudado", numa possível interpretação de que é uma característica inflexível dos tempos modernos, que se alguém acha que isso não está certo é porque mantém-se na condição de excêntrico e "fora de moda".

A questão é: minha sexualidade é da conta do meu colega de escola, do meu professor, do diretor, do meu município, estado ou país? Terminantemente não. As mais feias aberrações da humanidade passam por isso, por ações de interferências como tais. No entanto, o Estado deve promover um comportamento sexual? Não, nem hetero, nem homo ou bisexual. Não deve porque esse assunto não é de sua alçada, como venho defendendo, não porque seja errado vivenciar quaisquer destas experiências. Não deve ainda pela mesma lógica que o contrário não é devido, embora isto seja o que o governo, através do MEC, vem tentando num momento ou noutro, fazendo imergir a produção de ideologia sexual a título de equilíbrio e tolerância. Da mesma forma, parte da sociedade aplaude organismos a exemplo da TV Cultura, da Rede Globo e suas novelas, com o que pode ser interpretado como claro incentivo a um comportamento sexual definido, ao invés de focar-se na produção de uma consciência com tolerância pluralista, não específica.

O indivíduo precisa saber respeitar as diferenças sejam elas quais forem. Estamos demasiadamente atrasados e imaturos quanto à tolerância à individualidade do ser humano, não apenas quanto a questão do comportamento sexual. É hipocrisia ater-se a este assunto, como se ele fosse a raiz da nosso ignorância, pois ele é fruto de uma imaturidade ainda mais ampla que não está sendo encarada com a mesma seriedade e urgência.

Ouça a música:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente com responsabilidade!