quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Esse outro cara, quem é?

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Quem é esse cara, que fuma na minha cama e deixa as cinzas caírem em meu peito?
Quem é esse irresponsável, que enche meu pulmão de nicotina?
Que protela exames médicos, que me mete medo, que adia meus compromissos e expõe segredos. Esse cara ainda vai me levar do fundo do poço ao olho do furacão.

Esse cara conduz meus passos por ruas que eu não conheço, me assusta. Eu o mereço.
Há muitos anos que noto ele. Sutil, faceiro, travesso e malandrinho. Acho que desde que nasci ele está comigo. Ele vai de Coringa a Papa-figo.

Vou pagar um detetive, ou um terapeuta, quem sabe, para o desmascarar. Eu ainda pego de jeito esse sujeito.
Eu quero saber quem é esse que magoa as pessoas que amo. Que me impede de estar bem comigo, de dizer te amo.

Esse malandro não me deixa aparecer, mas sempre se põe à minha dianteira tomando partido em tudo. Me leva a braços estranhos, me faz mentir. O que quero não importa, importa apenas o que ele quer. Esse cara tomou conta de mim. Esse cara sou eu.

Até quando ele vai viver a minha vida, beber minha água, cuspir minha cara. Ele nunca para? Ele acorda e deita-se comigo. Ele não é meu amigo. É uma sombra de mim. Tomara.

Quem me apresentou a ele? As dores do mundo? O medo perpétuo que assola a humanidade? Os fracassos, as enrascadas da vida? O desespero, ou foram os deslizes traiçoeiros? Sei apenas que o que eu quero ele não quer. Isso não é normal.
Quando me deixa ser eu, o faz para manter-me ao seu lado, cativo, submisso, dependente. Cara de pau.

Acho que vou morrer sem conhecê-lo...ou sem conhecer a mim mesmo.
Que sabores mais delirantes ele põe em meu copo. Me enche de ilusões multicores. Me leva ao carnaval, como um mestre-sala conduz a porta-bandeira. E eu giro em sua volta, o mundo gira, meu mundo em doce e estonteante rodopio. Brincadeira.

A primeira vez, ele me embriagou e me possuiu. Quase um estupro sutil. E eu amei a minha desgraça. Marcou minha vida e jamais o esqueci. Não o perdoei, nem dele desisti. Ele está junto com essas histórias tristes. Ele não desisti.

Ele está comigo, do copo de vinho ao vômito, me dizendo que sou herói bandido, do prazer à dor. Quem ele pensa que é? Me ajudem, por favor! Ele não pensa. Ele me faz ser vaidoso, sonhador, iludido. Ele é como um marido. Manipular. Doença.

Ele me leva à igreja. E de lá eu volto pra a macumba. Ele me leva a brincar no trabalho, a dançar no hospital, irreverente ser. Me faz rir do juízo, perverte o que é direito. Crápula, profano, crente. Sem respeito. Diga-me, o que fazer?

Esse ser misterioso, galante, faceiro, me seduziu primeiro. Me iludiu e implodiu meu paraíso. Me expulsou das delícias inocentes, me fez perder o juízo. Me apresentou ao fervor do inferno quente. Me faz descartar pessoas. Me censura, me liberta, me leva e me trás. Não tem vida própria e vive a minha. Alguém me liberta desse satanaz? Tente se puder, quiser ou for capaz.

2 comentários:

  1. eu tenho que afirmar com imparcialidade que o seu texto ficou excelente!

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  2. Obrigado, Parceiros de verdade! Que bom!

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