sábado, 14 de abril de 2012

"Revelação De Um Sonho" - Voce acredita em destino?

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Evaldo Braga e Carlos Alexandre morreram em acidentes automobilísticos
"Ai confesso que chorei demais, vendo Evaldo Braga outra vez falar. Numa veste branca, sempre a cantar. De terço na mão, sempre a rezar."
A letra da canção "Revelação de um Sonho", na voz de Carlos Alexandre (letra de Potyguar e Maurílio Costa), especialmente o trecho destas palavras, me fazia arrepiar. A canção foi lançada com seu LP (Long Player) de vinil no ano de 1982. Eu tinha apenas 9 anos de idade. Evaldo Braga morreu em 1973, ano em que eu nasci, em um acidente automobilístico. Claro que eu não sabia disso na época, mas nem era preciso, a música tem um clima tétrico, triste, medonho, tenebroso e escuro, se quer saber.

Naquela época de seca, de abundantes mortes de crianças por falta de assistência social, de aberturas políticas com o movimento "Diretas Já!", de fome e da solidão de ser mais uma criança em meio a tantos outros filhos, sem brinquedos, sem luz elétrica, o mundo pareceria assustador de qualquer forma. Mas como se não bastasse, no rádio de "pilha" a música me aterrorizava ainda mais.

"Vendo Evaldo Braga outra vez falar..." Eu sentia que o cara tinha "esfriado", como diz o Pica-pau (personagem de desenho animado). Dentre as coisas que o cantor relata como motivo de ter chorado após o sonho, está a faculdade de "falar novamente". Eu sabia bem o que era a morte, pois tinha visto minha mãe chorar à beira do caixãozinho de meus irmãos. E eu sabia que o choro por motivo de morte é tétrico.

"Numa veste branca, sempre a cantar..." Vixe Maria, meu Deus do Céu! Era só o que eu penava.

"De terço na mão, sempre a rezar" Piorou. Alguns católico são assim, só rezam quando sente que a coisa desandou. E para Evaldo largar o microfone e o glamour da fama como cantor, só podia mesmo ter passado desta para uma outra.

Deve-se fazer uma correção. Na letra da música, os compositores falam que no sonho, que seria a volta de alguém que já morreu falando com os vivos, Evaldo queixa-se de não ter conhecido seus pais. Ele conheceu seu pai, sim. Seu irmão, que também era músico, fez em 1997 um documentário intitulado "Evaldo Braga - O Ídolo Negro" que está disponível no YouTube, onde revela que Evaldo conviveu certo tempo com seu pai e seus irmãos, só não se entendeu muito bem com sua madrasta. A mãe, esta sim, morreu carbonizada sem que ele a conhecesse. Durante algum tempo, Evaldo foi criado pelo que seria hoje a Fundação Casa (ou antiga FEBEM).

No Rio de Janeiro, cantores como Paulo Sergio e o jogador Dadá Maravilha o ajudaram a subir pelos degraus da fama. Em 1969 Evaldo tornou-se muito apresentado em programas de TV, como a "Discoteca do Chacrinha", um ano antes de sua trágica morte. Uma de suas canções, também mencionada na canção interpretada por Carlos Alexandre, foi "A Cruz que Carrego". Nela o cantor diz: "sinto bastante pesada a cruz que carrego". Essa frase transforma-se em gancho poético para a triste canção posterior, como se, com a morte, o pesar da cruz estivesse cessado para Evaldo.

Dois anos após a morte de Evaldo Braga, em 1975 Carlos Alexandre começa sua carreira artística com a gravação de sua primeira música, intitulada "Arma de Vingança". O compacto(menor que o LP) venderia 100.000 (cem mil) cópias, número astronômico numa época em que não havia CD, MP3 nem YouTube.

Evaldo Braga e Carlos Alexandre morreram de acidentes automobilísticos. Evaldo, em 1973. Carlos Alexandre, em 1989. Falta agora alguém que se habilite a cantar uma canção reveladora da presença metafísica de Carlos Alexandre. Talvez, a canção revele uma letra assim: "Sonhei com Carlos Alexandre sorrindo em minha frente..."



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