terça-feira, 13 de novembro de 2012

Policiais Bandidos x Bandidos Heróis e "novo cangaço"

Agregador de links
Deixa eu te perguntar uma coisa: a polícia monitora 100% a ação da polícia? Parece redundante, mas a gente chega lá no que eu quero dizer. Novamente pergunto: os chefes de chefes de chefes, da PM, de dentro de seus gabinetes tem "certeza militar" do que seus subordinados e subalternos fazem nas ruas?
Digo isso porque, onde estava o superior, o comandante, daquela equipe que executou um servente de pedreiro, na Zona Sul de São Paulo, no último sábado, dia 10 deste mês?

Segundo o portal G1, onde o vídeo gravado por um morador mostra o preso pedindo "pelo amor de Deus" para não ser executado, e é silenciado por um tiro, "a defesa do tenente que comandava equipe policial envolvida na morte do servente Paulo Batista do Nascimento, em São Paulo, disse nesta segunda-feira (12) que o detido já estava ferido quando o tenente Halstons Kay Yin Chen chegou ao local no sábado (10). Segundo a defesa do oficial, o detido tentou retirar a arma do policial durante a revista no caminho até o hospital e houve um disparo". Assista o vídeo no G1.

Não é desconhecido esse corporativismo, repito, ele é a argamassa que faz do grupo um só bloco. O problema é quando este mesmo corporativismo serve para passar a mão na cabeça de policiais criminosos, recentemente chamados de "o lado podre" da PM. Volta e meia esse lado cancerígeno aparece diante de alguma câmera teimosa em registrar o que se gostaria que ficasse encoberto. E é aqui que entra meu argumento assustador: quantas dessas ações marginais executadas por policiais conseguem ser registradas por câmeras?

Note que, ao contrário do que diz a defesa do tenente, o governador Geraldo Alckmin fala, sem dúvidas, em "execução" do preso. (G1)

Se admitirmos que nem sempre é possível filmar a polícia agindo como bandidos, temos que admitir que há mais casos, os não filmados. Mas, nos deparamos ai com uma coisa muito nebulosa: a população, que deveria ter a polícia como protetora, agora terá que vigiar essa polícia? Além do lobo, agora as ovelhas terão o pastor sob vigilância?

Se o morador da Zona Leste (vídeo acima) informasse a polícia que estava filmando, qual seria a reação daquela equipe em relação a ele?

1 -Apreender a câmera? 
2 -Invadir a residência do cidadão? 
3 -Mudar de ideia e não executar o sujeito rendido por eles? 

Eu aposto que, enquanto filmava da sacada de sua residência, o morador analisou todas estas possibilidades, mas tente adivinhar qual delas ele achou mais provável! Ele filmou tudo na surdina, senão, poderia passar pelo que este outro, um morador de Praia Grande(litoral paulista), passou. O que isso mostra? Medo. O que aprendemos? Nem fale em "corregedoria" perto de um policial:
No vídeo abaixo, "Não filma a gente agora não, por favor", é o pedido educado de um policial, antes do preso ser executado na calçada(a narração é em inglês, mas a cena se passa no Brasil, e foi real).
Destemida, uma mulher ao confrontar-se, em Ferraz de Vasconselos(SP), por acaso, com alguns policiais da dita "banda podre" da PM, e faz uma ligação para a central de polícia enquanto eles executam um preso, e por pouco ela mesma não engrossou a lista de vítimas. Veja no vídeo abaixo:

É fácil falar da "banda podre" quando ela se revela em suas ações condenáveis. Aliás, é fácil ao governador vir depois dizer que isso "é intolerável". Difícil é enfrentar a realidade de que essa "banda podre" não nasce podre, mas vai apodrecendo no decorrer do tempo. Nada muda, isso vem ocorrendo ao longo de décadas, e não apenas em São Paulo.

Diante dessas coisas, inevitável é nos perguntar: O que está acontecendo com nossos policiais? É síndrome do "já que não pode com o inimigo, junte-se a ele"? Será que nossa polícia está cansada de combater o crime, e ela mesma começa a aderir ao crime?

É fácil conservar o "aterro sanitário ideológico" do lixão da banda podre, sobre o qual sempre será jogado o lixo do abuso de poder, difícil é encarar o fato de que não é cuidando dos sintomas que o corpo ficará são. O que há encoberto por trás da polícia que mata seus presos, que atira em cidadãos, que dispara a revelia nas madrugadas nas periferias(como o famoso "Rambo" de Diadema), que ameaça e impõe medo, ao invés de respeito e reverência?

Mais uma pergunta: Há câmeras e coragem suficiente para o cidadão flagrar a ação da polícia nas práticas de abuso de poder? Até quando as autoridades ficarão a espera de que um vídeo corajoso denuncie, na TV, estas coisas? Será que nossa corregedoria trabalha com informações via noticiário televisivo? Até quando a mídia sensacionalista parecerá a única esperança para os que denunciam?

Veja este exemplo, onde "seis policiais são investigados pela Corregedoria da Polícia Militar por suspeita de ter espancado e roubado um taxista de 29 anos na madrugada do dia 15/07/12, na região central da capital paulista. As agressões teriam ocorrido por volta das 4h, na avenida Rio Branco, e incluído chutes na cabeça do rapaz. Um aparelho instalado no veículo para comunicação do taxista com a central, chamado de PDA, também teria sido levado pelos PMs, segundo o motorista.

Em depoimento no 8ºDP (Brás/Belém), o taxista afirma que tudo começou ao passar em alta velocidade por uma viatura na rua Alfredo Maia, na Luz, quando levava uma passageira com urgência para ser atendida na Santa Casa de Misericórdia, na Santa Cecília".(Fonte: Último Segundo)

Meu temor é que, em uma sociedade que a polícia age como bandidos a população comece a ver bandidos como heróis. Foi assim que Virgulino Ferreira, o Lampião, perpetuou-se na cultura popular brasileira como o "herói-bandido", matador de polícia, a quem chamava de "macacos". O que está acontecendo em São Paulo, com a onda de mortes a policiais, não é uma espécie de "novo cangaço"?

Diante de tudo isso, disse Patrick Wilcken, pesquisador sobre assuntos brasileiros da Anistia Internacional, que "a taxa de mortes pela polícia é extremamente alta em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda existe uma cultura de violência e impunidade no País".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente com responsabilidade!